sexta-feira, 9 de maio de 2014

A DPP era 9 de maio

Pra quem não sabe, DPP significa data provável de parto.

Ano passado, em setembro, descobri que estava grávida. Era uma gravidez planejada, diferente da primeira, que foi muito querida, mas foi sem programação alguma.

Como eu já sabia mais sobre maternidade e parto, eu já sabia onde faria o pré-natal, onde ele nasceria, se tudo corresse bem. Escolhemos a Casa Ângela, que é uma casa de parto muito bacana na zona sul de SP. Mas para começar tudo lá, era necessário fazer uma visita para apresentação, e marcamos para o último sábado do mês, que era a data mais próxima que poderíamos ir nós 3, eu, Henrique e Linus. Então, no dia 28 (meu aniversário inclusive) fomos lá visitar e gostamos ainda mais do lugar e logo menos eu começaria o pré-natal.

Na semana seguinte, fiquei ocupada com o aniversário do Linus, que seria no sábado seguinte, sem contar os encaminhamentos finais do meu TCC  e trabalhos finais na faculdade. E acabei adiando um pouco mais o início do pré-natal, por isso e por ainda estarmos decidindo como iríamos pagar as consultas e tal.

No sábado, comecei a ter um sangramento, como sabia que era algo comum nas gestações e muitas vezes não significa nada grave, resolvi não alarmar ninguém sobre isso e não fui ao hospital no mesmo dia, decidi que iria no dia seguinte assim que acordasse, afinal era a festa de aniversário do pequeno e muita gente nem sabia que eu estava grávida também.

Na manhã seguinte, já estava nos planos ir ao hospital, e na minha primeira mexida na cama, desceu uma enxurrada de sangue, fui correndo ao hospital, levei o café da manhã na mochila e lá demorei a ser atendida, era troca de turno dos médicos. Quando fui atendida, a médica me examinou e logo disse: seu colo do útero está aberto, você vai fazer um ultrassom para ver se precisa de curetagem. Puf! Meu mundo caiu por alguns instantes... Liguei pra casa, avisei o Henrique e ele logo veio com o Linus. Houve uma confusão no hospital, não estavam deixando eles entrarem, mas no fim das contas conseguirmos nos encontrar e lá longe e eu vi o Linus me chamando em lágrimas na recepção:

-Mãe! Mãe! Cadê o bebê?

Nos abraçamos, choramos... Falei que eu não sabia, que ele tinha virado sangue. (E por muitos meses ele falava do bebê sempre que eu menstruava). Fiz o ultrassom, não havia mais vidinha, a vidinha que eu nem cheguei a escutar o coraçãozinho uma vez sequer.

Foi um dia, uma semana, um mês muito difícil.

O Linus chegou a ter febre, ficamos tristes.

Eu sangrei do dia 05/10 até o dia 16/11 quase que ininterruptamente, foram 31 dias com algumas pausas de poucos dias. Nesse meio tempo tive 2 amidalites, dismenorréia, muita febre e muita dor pelo corpo, principalmente nos ossos, passei dias de cama e ao mesmo tempo preocupada com as minhas faltas na faculdade, afinal, eu estava mal, mas não para um médico me dar um atestado de 15 dias. Quando parei de sangrar meu corpo respondeu ao processo com um corrimento desgraçado, que parecia que eu estava em carne viva, precisei ficar de cama porque andar doía... Encarei uma dieta com zero carboidratos, que me ajudou no corrimento e assim que fiquei melhor, voltei as aulas. Nesse dia, senti calafrios, tremedeira, tontura, dor de cabeça e mais um monte de coisas estranhas que já não lembro mais, e lá estava eu, voltando pra casa da faculdade, com o menino no carrinho, mochila, e toda a tralha que eu levava sempre, no metrô barra funda, sozinha. Foi bem ruim e era a falta de carboidratos! Comi um pãozinho que tinha levado para o Linus e segurei a onda. Deixei o menino na escola e consegui chegar em casa. Fim da dieta, marquei consulta na nutricionista e na microfisioterapia.

E a vida continuava.

TCC, faculdade, fim de semestre, entrega de trabalhos, não poder faltar pra não bombar por faltas, com o menino junto, todo dia.

Não conseguia falar com meu orientador, que lá pelo fim também ficou internado por alguma infecção, houve falta de compromisso de um professor convidado para a banca, incompatibilidade de datas, já que as minhas eram restritas ao sábados... Todo problema que poderia haver, houve, quase troquei de orientador dias antes da defesa. E nessas idas e vindas pra resolver isso fui me sentindo muito cansada. No fim, consegui apresentar e finalizar o semestre.

Os planos de ter mais filhos ficou pra depois.

O plano agora era mudar de casa, pra Ubatuba, o Henrique foi e voltou várias vezes, nos ocupamos de empacotar coisas em casa, de tentar achar nova moradia antes de vencer nosso contrato vigente... Mais correria e mais correria. E mais histórias bizarras pra contar desse envento... Que ano difícil, mas conseguimos nos mudar logo no início de fevereiro.

Eu não contei pra muita gente que fiquei grávida, e tampouco sobre a perda do bebê, muita gente cruzou comigo sem saber o que estava acontecendo. Pra todo mundo eu estava igual a sempre, acho.

Mas decidi compartilhar, porque muita gente passa por abortos e é bem difícil lidar com isso, mais difícil ainda quando se tem outros pequenos em casa. Pelas minhas pesquisas, dscobri que cerca de 30% dos óvulos fecundados acabam em aborto muito cedo, muitas vezes até confundidos com menstruação. E é um assunto tão guardado, as vezes a gente só queria ter alguém pra dividir o peso, pra dizer que já viveu isso, que passa, que a vida segue. Que fosse sincero, e não mais uma conversa pronta. 

A sensação de falta de controle pra mim foi devastadora, eu achava que eu era muito boa em gestar e parir, visto pela minha expêriência com o Linus... Mas a vida no útero é ao mesmo tempo frágil e forte. E nós, mães, não podemos fazer muito a respeito. Se por algum motivo, não era pra eles ficarem com a gente, eles não ficam. E não há justificativa científica que possa confortar. O negócio é aceitar e esperar passar. Qualquer justificativa é uma idéia vaga do que pode ter acontecido, e os porquês nunca tem resposta.

E hoje de manhã, nessa data, depois de tanta coisa, tantos altos e baixos, fiz um teste de gravidez e deu positivo. Justo hoje, na DPP do outro beibe.

Não sinto a emoção que senti em nenhuma das descobertas anteriores, eu sinto a presença de uma vidinha, com menos de um mês já tenho até barriga. Mas parece estranho me alegrar com algo que pode acabar em um monte de sangue novamente. É quase como se não fosse, pelo medo de perder. Como se isso só fosse se tornar real depois do parto.




15 comentários:

  1. Oun, querida, sinto muito por tudo isso que passou. Nem todo mundo fala mesmo quando passa por uma perda.
    Eu perdi um bebê quando estava com 17 semanas de gestação e foi absurdamente difícil. Pensei que demoraria muitos e muitos meses para que a vontade de engravidar de novo chegasse. Chorei e vivi o luto por um tempo. Mas, para minha grata surpresa, dois meses depois recebi outro positivo.
    A sensação é bem essa que você falou: foi estranho me alegrar com aquela novidade, é inevitável o medo que surge, quase como se a gente não quisesse se apegar, com medo de se iludir, né. Eu também já tinha barriga, sentia a nova vida, mas demorei bastante pra soltar a notícia pra todo mundo. Queria primeiro me acostumar com essa novidade e tb poupar o bebezinho, com menos energias e perguntas de terceiros. Aos poucos as coisas foram se acertando.
    Hoje to com 30 semanas e muito muito feliz - e está praticamente certo que ela nascerá na Casa Angela.
    Enfim, só queria te dizer que sei o que está sentindo e que confie, tudo vai dar certo. As coisas acontecem exatamente quando tem que acontecer. Parabéns pela nova vida que tá crescendo aí dentro a todo vapor. Muita saúde pra vocês, e muita luz.

    Beijo e abraço,
    Marina

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    1. Agradeço pelas palavras, Marina!

      É realmente muito difícil, e na época eu também não quis comentar com ninguém, porque é incrível como na desgraça da vida alheia as pessoas pulam em vc querendo dar opiniões, querendo ser os amigos que nunca foram, de repente todo mundo quer ser íntimo e tudo que eu precisava era de um respiro pra me reestabelecer, eu realmente não gosto de ser o centro das atenções, eu estava mal e precisava processar tudo.

      Eu queria ter achado mais textos, ou pessoas pra compartilhar, pra me sentir mais tranquila, mas é realmente difícil alguém compartilhar desse assunto, acho que é duro pra todo mundo, pra mim com certeza é mais duro do que lidar com a morte de um parente mais velho, afinal, a vida caminha pra morte, no fim da vida, e não ainda na barriga. Um bebê é uma explosão de muitos sentimentos bons, é ruim demais tudo se perder tão rápido.

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    2. Que legal que vc está indo na Casa Ângela! Tomara que dê tudo certo, lá é ótimo!

      Eu ainda nem sei como vou fazer, quero um parto em casa, aqui em Ubatuba não tem casa de parto, quero que o Linus fique por perto... essa história de ir pra hospital e passar 2 dias longe de casa, longe do outro filho não é pra mim, definitivamente!

      boa sorte pra nós!

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    3. no comentário acima, era eu, Carol. rs confusões com login.

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  2. Nunca passei por essa experiência, mas sinto a dor de cada um dos relatos que leio, pois sei o quanto eu tive medo de perder o meu enquanto estive grávida.
    MAs olha....Nada é coincidência nessa vida, encare que a descoberta desta nova gravidez na DPP da última, é um novo nascimento...Um motivo de alegria sim!
    VAi dar tudo certo, Linus será irmão mais velho!
    Bjoks e boa sorte!
    Carol
    www.meuparasita.com

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    1. eu também não fazia idéia do que era, na real nunca imaginei que aconteceria comigo, a gente nunca sabe, mas eu fui tão bem na primeira gravidez, nunca duvidei de mim mesma com essas questões, agora já não sei de mais nada!

      Mas a vida caminha, a gente caminha junto!

      Estamos na torcida pra dar tudo certo dessa vez!

      Beijos!

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  3. Carol minha querida, eu soube e sofri com tudo, estou agora me debulhando em lagrimas, apesar de não nos vermos tanto, como você ocupa um lugar especial no meu coração, me desculpe se não consegui dizer algo confortafor na época, morro de medo das frases prontas.
    Mais estou muito feliz com essa nova noticia, e tudo será diferente e único, não tenha medo, se entregue a esse momento... * tenho você como uma grande amiga, e logo estaremos por ai.... Tantas coisas estão acontecendo por aqui, adoraria tê-lá por perto. Grande beijo

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    1. Ai Flávia, eu também não saberia o que dizer pra uma amiga que passou por isso, ainda mais sem saber o que é, na pele. É difícil, a gente nunca espera... mas não tem muito o que fazer, sua companhia já me deixa feliz! Você é uma pessoa tão alegre, que já anima qualquer pessoa por perto! Sou feliz por ter te conhecido! Seria legal mesmo se a gente conseguisse estar mais perto, com as crianças da mesma idade, seria tudo de bom!

      beijos!

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  4. Apesar de escrever q ñ há justificativa cientifica aceitável, bemmm no início é quando tudo se forma, tudo se junta, perfeitinho ou mesmo imperfeito vinga ou a propia natureza se encarrega da seleção!
    Vc é sim tudo q pensa q é em parir, pense q lá na formação e divisão celular do embrião o forninho, já aquecido, q foi apto a gestar uma vez com perfeição, permiitiu a concepção uma vez mais ñ pode ser "(você)"o único responsável pela seleção q a natureza faz.
    Creia, a natureza é sábia, vc chora a perda...
    Muitas mães choram a dor de ter um filho com deficiências difíceis e quase incompatíveis com a vida mas q vivem, vingaram e são resultados de quando a natureza deixou a seleção natural passar. Ambas situações são imensuráveis!
    Tenha bom ânimo, seu anjinho está de volta e em grande, dessa vez tão, mas tão perfeitinho pq Deus te preparou o melhor para te recompensar.
    Sinta-se abraçada e parabéns por todo êxito!
    Força a vc mulher, mãe, lutadora.
    Um bjão!

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    1. Obrigada! Era o que eu pensava, que se ele não ficou, era por ter alguma má formação, sei lá... Um passo de cada vez e as coisas melhoram!

      Beijos!

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  5. Carolina,
    Eu tive um aborto recente também, foi muito doído. Desde então ainda não consegui engravidar novamente e sempre penso que vou achar dificil comemorar. Um abraço meu e parabéns, que seja uma gestação com muita paz e saúde para vocês.
    x

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    1. A gente também não comemorou, quando alguém vem dar parabéns, eu fico meio sem reação, sei lá, não estou muito empolgada, estamos cuidando, buscando um bom pre natal, parteira, coisa e tal.... Mas não parece nada com a primeira gravidez, não tem metade da magia que era naquela época, ou mesmo da gestação que terminou em aborto. Estamos levando com mais razão e menos emoção, sei lá... É difícil mesmo. Agradeço suas palavras! A vida deixa a gente mais dura, mas acho que temos que dar chances... Uma hora a paixãozinha acontece!

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  6. Que história!!! Me emocionei.
    Desejo que essa gestação seja perfeita, que tudo corra bem e que a alegria aos pouquinhos invada sua vida novamente.
    Vai dar tudo certo. Acredite!
    Beijos

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    1. Obrigada! Estamos cuidando pra que sim, que seja tudo o melhor possível! Beijos!

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  7. Poxa Carol que história! Um perda é sempre dolorida, mais uma nova VIDA é sempre bem vinda <3
    Desejo de coração que essa nova gestação seja tranquila e que esse bebe cresça cada dia mais!

    beijos em vcs

    Renata
    http://renatacrescioni.blogspot.com.br/

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