quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sobre deixar de ser casal e reaprender a ser somente eu

O que é deixar de ser um casal com filho, pra então sermos dois solteiros com filho em comum?

Então 2014 foi o ano das separações dentro do nosso círculo social, meu e dele... Muitos de nossos amigos casais se tornaram solteiros, e não só amigos, como amigos de amigos, conhecidos... Por aí vai. Pode ser algo que gire em torno dos 30 anos, pode ser acaso, pode ser que não. Mas nós fomos parte desse movimento. Após seis anos juntos, quatro deles como mãe e pai, decidimos então nos separarmos.

A princípio foi algo calmo e decidido com muita razão, cabeça fria apesar dos pesares. No fim das contas a coisa desgastou, não éramos felizes juntos como desejávamos ser e sentíamos que era só mais um passo adiante que precisávamos dar pra continuar essa longa caminhada da vida.

( pausa aqui: não quero entrar no mérito de tomar lado algum nem vou entrar em méritos de dizer o que foi, o que não foi e tudo o mais)

Onde eu queria chegar é:

O que é estar solteira depois de tantos anos casada e ainda por cima, ser mãe de uma criança pequena?

É algo comum, mas não leio muito sobre isso, não escuto muito sobre isso... Parece um universo meio obscuro.

E de fato é, é tão complexo que nem eu mesma sei dizer.

Deixar de ser um casal de longa data é uma brusca mudança que requer muita força de vontade, porque de alguma maneira isso vai mexer em nossa estrutura... Estrutura aquela que era apoiada em mais alguém e agora estamos aqui, por nós mesmas. É estranho no começo se segurar pra não manter o ritmo de sempre, de falar como foi o dia, de falar de novas descobertas, de falar que viu algo mais barato no supermercado... Ou qualquer coisa que costumava ser cotidiano dos dois. Mas também é estranho ter tantas novidades que só acontecem porque você não é mais um casal... Coisas que mundo nos permite ou nós mesmas nos permitimos... E a base de tudo: se redescobrir indivíduo!

E pode doer o que for, e com certeza dói. Mas depois da alma lavada em lágrimas e dores, resta aqui um olhar de volta a mim mesma, me obrigando a olhar quem fui, quem sou e quem quero ser. É um exercício diário, minuto a minuto... Eu não me preocupo com ele, com o julgamento, com o acolhimento a ele, nem com as tarefas do dia a dia que eu sustentava em conjunto... Agora sou eu e eu. É a partir de agora que eu me organizo com meus sonhos, meus projetos nessa vida... E reaprender a me dar prioridade... E como ser prioridade de mim estava distante, e eu nem percebia! Foram anos e anos de diluindo em dois, em três... E sair disso assim: só o bagacinho!  E parece tão difícil tirar a essência desse sabor que sou eu e transformar num sabor único! Mas quando a magia acontece... Nossa! Que felicidade! Que leveza! Que satisfação! 

É aqui que estou. 

Mas então sou também um potencial explosivo de mil vontades acumuladas! Mas eu tenho uma criança comigo... Eu não sou mais quem eu era, quem eu achava que ia encontrar nesse retorno a mim mesma... Ser mãe é nunca mais ser a mesma que um dia fui. Preciso ter cautela, driblar minhas vontades, retomar o que tenho de melhor e fazer em conjunto com o que ganhei de experiência nesses anos... E preciso ponderar, pensar quais caminhos valem mais a pena, mesmo não sendo mais casal, sou ainda dois: eu e meu filho. E a ele devo uma responsabilidade além do que me era comum. Eu não posso fazer o que quero na hora que quero, as loucuras são ponderadas, e mesmo a vontade de prosperar deve ser homeopática... Eu preciso ter tempo pra ele, com ele... Tempo de qualidade: conversar, acarinhar, dar banho, comida... Cuidar do nosso lar.

Ser solteira e mãe me permite vivenciar universos quase paralelos, tudo junto ao mesmo tempo: meu lado mãe e meu lado jovem mulher adentrando o que dizem ser os melhores anos femininos: os 30.

É confuso as vezes. Mas é lindo. Eu nunca me sinto sozinha, apesar de solteira. 
E com o modelo de separação surgem momentos rotineiros em que posso estar só comigo, ter meus respiros, meus momentos de concentração no que eu quiser. E isso, como mãe casada é quase uma luta diária... Honestamente, é uma das melhores coisas em deixar de ser casal!

Já tenho alguém a quem cuidar, o que não me deixa espaço pra relacionamentos confusos: meu filho está aqui e é a ele que concentro meus cuidados. Deixo aos outros, que me divirtam, no mínimo... Sem chororôs, por favor! A vida está clara e o riso solto... E assim pretendo ficar!

E nesse meio tempo, aprendo que eu mesma sou prioridade de mim, me reenergizo, movimento pessoas, projetos, sonhos e desejos... Não orbito em torno de uma ideia a dois, eu sigo em frente pra conhecer o mundo que deixei pra trás, no meu ritmo, do meu jeito.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Linus é um menino de 4 anos!

Dia 5 de outubro Linus completou 4 anos. 4 anos, minha gente, como passa rápido. Quando eu tinha 14 anos 4 anos não passavam nunca, mas agora, passou que nem deu pra perceber esse tempo passar.

No dia mesmo, foi um dia comum, pro azar dele eu acordei com uma mega enxaqueca e a gata quis nos acordar as 5h30 da manhã, o que gerou um estresse e um surto da minha parte, pra prosseguirmos o sono na base da dipirona. E só muito mais tarde eu lembrei que era aniversário dele, coitado. Rs.

Tentamos passar o dia numa boa, com uma dose extra de paciência com ele e pizza no jantar, foi bem tranquilo, tentamos cantar parabéns pra ele e ele não deixou, acho que pra ele parabéns é só com bolo e brigadeiro!

Na quarta-feira, fizemos a festa toda. Do jeito que ele quis, onde ele quis e com quem ele quis. Sério, já não é mesmo um bebê, já tem amigos que ele chama pelo nome. Se antes as festas era mais nossas que dele, porque era só os nossos convidados, essa era só de convidado dele. Foi praticamente só a turma da escola e da natação, logo depois da aula, num playground que tem em um shopping aqui em Ubatuba, onde os amigos ele já haviam feito a festa deles antes.

Ele chegou na festa com sua coroa roxa feita na escola, tão feliz que parecia que ia chorar, me deu um abraço e foi brincar! E brincou quase a festa inteira, ele e os amigos todos. Teve bolo colorido com desenho de arco íris e o nome dele escrito com confeti. Teve brigadeiro de copinho e paçoquinha. Suco de uva, água e salgadinhos. E claro o parabéns, ele parecia travado tamanha a emoção na hora do parabéns. Assoprou as velinhas e pegou o primeiro pedaço do bolo pra ele.

Decoramos com o tema arco íris que ele pediu e muito papel crepom, tudo pra máxima cafonice! Mas até que ficou um charme!

Linus aos quatro anos já é um rapaz! Já dorme sem ma mãe, já dormiu só com o pai, com os avós, já passou quatro dias longe de mim, a turma dele já está começando um a dormir na casa do outro e logo menos é ele e eu tenho certeza que não terá crises! Que orgulho dele, ele que dava tanto trabalho pra dormir, agora já parece tão resolvido com o sono!

Ele já conversa, explica, lembra a gente de outros momentos e outras conversas, as conversas fazem sentido! Propõe assuntos, atividades e combinados.

Ainda tem um lado bebezão também, ainda não toma banho sozinho, ainda pede,pra dar comida, apesar de várias vezes comer sozinho. Ainda,precisa da gente pra amarrar os cadarços, mas já sabe fechar e abrir os botões.

E algumas coisas são muito claras, a gente sabe que não era fase. Ele é apegado as regras dele, as rotinas dele, coisas que só fazem sentido pra ele, mas se sai do plano, que sofrimento. E sim, ele sofre profundamente com muuuuuita coisa, não era fase, é dele mesmo, é nitidamente um sofredor, frustradíssimo, não lida bem com mudanças repentinas e quando os outros não seguem as regras dos adultos, ou as regras da cabeça dele. Flexibilidade emocional não é o forte desse menino.

E por ser assim, já vizualizo a dificuldade que ele vai ter na vida. Além de ser canhoto e um menino mega delicado, tinha que ser ofendido rs. Bom é que ele é determinado, justo e afetuoso. Ele sempre tenta apartar a briga dos amigos,manter a ordem nos espaços, muitas vezes leva a bronca junto porque geralmente as professoras ou cuidadores, ou quem seja que esteja por perto no meio de tanta coisa acontecendo, acham que ele está no meio da briga junto. Num geral, ele é um amor.

A vida social dele evoluiu absurdamente aqui em Ubatuba, a escola o recebeu muito bem, ele fez amizade com todas as crianças, eles são muito unidos, ele consegue se encontrar com a turma fora da escola. Eles tem assunto, sentem saudades, fazem festa quando se encontram! É muito bacana ver isso acontecer, é a grande novidade desse ano que passou. Antes, apesar de todo meu esforço, ele nunca conseguia ter amigos desse jeito, e estou muito feliz por ele.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A segunda experiência

Em torno das quatro semanas e meia o embriãozinho parou de se desenvolver... Em torno das seis semanas (pelos meus cálculos) ou oito semanas (pelo cálculo padrão pela última data da menstruação) eu comecei a sangrar. Houve, quem dissesse que era nidação, e ainda quem dissesse que era ficar em repouso que tudo ficaria bem, a gravidez prosseguiria. Mas ao ver o ultrassom e essa incompatibilidade, eu ja sabia, era aborto.

Ao contrário da outra vez, essa eu pude acompanhar com mais consciência, consegui perceber o que havia acontecido e isso me deixou mais calma com o processo todo. Era uma gestação anembrionada, não havia nada dentro do saco gestacional e ele simplesmente parou ali, em quatro semanas. E, naturalmente o corpo entendeu e mandou pra fora.
Os médicos daqui de Ubatuba são muito mal preparados, ou mal atualizados, ou sei lá o quê. No posto onde estava acompanhando o pré-natal disseram que eu deveria fazer uma curetagem (procedimento cirúrgico para retirar qualquer vestígio de gravidez de dentro do útero, é usada anestesia e um tipo de "raspagem" manual uterina) com urgência, ninguém me deu diagnóstico de nada, ninguém se preocupou em me explicar nada, além do fato de que eu iria com certeza ter uma infecção e perderia meu útero. Precisei de atestado médico, por conta de trabalho, e se recusaram, me deram uma guia para a curetagem apenas. E ainda falaram pro Henrique me convencer a ir, porque eu estava alterada.

No hospital, o médico quis me internar para tomar medicação e repouso. Quando questionei a diferença gestacional e a possibilidade real de ser um aborto, pela análise de ultrassom, ele não me disse nada. Quando questionei o que aconteceria se de fato se concluísse em aborto, ele disse que eu seria levada para a curetagem, e essa era a única opção. 

Como eu já tive outra experiência com aborto, sem curetagem, eu sabia que essa não era a única opção. Questionei, pedi um atestado médico, as medicações que ele disse que eu tomaria no hospital mesmo. Consegui apenas 5 dias para ficar em repouso em casa e fui embora. Em casa realmente fiz repouso e tomei medicação, era o que dava pra ser feito. Ficar internada não era uma opção. Nunca consideraria ficar num lugar estranho, sozinha e sem ter com quem conversar numa situação em que tudo que precisamos é ter calma e sentir acolhimento... E no meu caso ainda ficar preocupada com o Linus, que ficaria triste em casa sem entender nada. Cara, isso não é uma opção, ainda mais sabendo que eles iam me mandar pra sala de cirurgia, de qualquer jeito.

Fiquei em casa, pesquisei muito sobre aborto, sobre curetagem, li relatos, li textos da organização mundial de saúde, li até um livro sobre procedimentos cirúrgicos no sistema reprodutor feminino. E só consigo pensar que os médicos daqui não sabem o que estão fazendo.

Passado dois dias dessa ida ao hospital, meu corpo expeliu o que restava, sem dores, sem dificuldades, um pedaço inteiro do que eu acho que era a placenta. E nessa quarta feira, fiz outro ultrassom e tudo estava de acordo, útero limpo, já em período fértil. E esse é o normal. O corpo feminino está apto a expelir sangue,  coágulos e bebês, em condições saudáveis e naturais e procedimentos cirúrgicos são colocados como primeira opção desconsiderando a nossa natureza. Desconsiderando que todo procedimento cirúrgico traz também muitas reações desagradáveis e consequências que muitas vezes prejudicam o paciente. Por isso só devem ser feitas quando não temos outras opções. 

A curetagem por exemplo coloca a mulher em espera por três meses antes de tentar engravidar novamente, quando num processo natural, a mulher pode engravidar logo em seguida. Em alguns casos a curetagem pode ser mal indicada como em casos de endometrite e só piorar a condição de saúde. Sem contar o peso de uma anestesia, que é uma invenção salvadora, mas convenhamos que não é um procedimento suave e tranquilo... Muito pelo contrário, e se há possibilidade passar sem isso, eu com certeza escolho passar sem isso. Tenho certeza que eu ia ser daquelas pacientes que ia passar muito mal com os efeitos da anestesia e recuperação. Porque, se eu tomar café eu já fico claramente alterada, quem dirá uma anestesia.

É preciso dar um tempo, alguns dias, pro corpo responder, pra tudo voltar aos eixos e, com acompanhamento adequado é possível passar por isso sem traumas a mais, porque perder um filho já é um trauma por si só. No meu caso então, que já estava no meio do caminho pra expelir tudo, não tinha porque acelerar ainda mais o processo. Pelo menos pra mim, não há sentido. Eu sabia que ia dar tudo certo. E deu.

O Linus ficou confuso, ainda não processou o que aconteceu, diz pros amigos que ainda vai crescer um irmão forte na minha barriga, que vai nascer. Isso deixa a gente sem chão... Ele parece querer muito esse irmão. E mesmo vendo o sangue, o embrião, ele ainda não assimilou... E de fato não faz muito sentido, não é o caminho que a gente espera... E ele continua na espera desse bebê.

Sobre passar por abortos de repetição, cada um traz uma experiência diferente, a primeira de sofrimento e incompreensão. Essa de tomar controle de mim mesma diante a postura médica e estudar, entender, me defender. Nem sobrou muito tempo pra lamentar, minha energia foi quase toda a buscar mais e mais informações para fazer o que eu acredito ser melhor pra mim, para a minha família. Não que não tenha sido triste, mas ainda que triste, eu consegui olhar pra tudo isso com mais clareza, e isso tornou o processo mais fácil emocionalmente, comparado ao primeiro.

E também ter essa segunda experiência me fez repensar sobre duas outras menstruações fora de padrão que aconteceram ano passado, me questiono se não foram outros abortos, muito precoces que não identificamos. Eu sinto que sim, apesar de não haver exames clínicos que comprovem.

E agora entramos em um novo momento que eu nunca pensei que fosse passar, ir em busca de conhecimentos sobre a fertilidade de nossos corpos, analisar tudo e controlar meus ciclos dia a dia, fazer exames, essas coisas que a gente nunca pensa que vão acontecer com a gente.

Mas de qualquer forma, penso que podemos ganhar com isso, ganhar mais conhecimento e quanto mais conhecimento sobre nós, diante da medicina, melhor ficaremos pra nos posicionar, nos defender... A impressão é que, em quanto mais médicos passo, mais eu confirmo o quanto eles não são bons em explicar o que acontece com a gente, nem sabem lidar com os questionamentos e com certeza tratam mulheres de maneira desrespeitosa, ao resumir todos os nossos embates e questionamentos como raiva, frustração, nervoso, e qualquer outro sintoma emocional derivado de alterações hormonais. Porque assim parece, mulher doida, vc está frágil porque está na tpm, ou passando por aborto, ou porque está grávida... Ou simplesmente porque mulheres são assim e não vamos discutir com vocês.

Pra que raios uma mulher quer questionar tanto né? 
Só indignação com os médicos. Com a medicina... Mas isso é discussão pra outra hora.


terça-feira, 27 de maio de 2014

Homens são todos iguais... São mesmo?

São todos iguais, ou são todas as mulheres iguais a terem as mesmas péssimas expectativas deles? Ou o extremo oposto, a super bajulação por eles fazerem nada menos do que deveria ser obrigação deles como indivíduo perante a família?

Uma coisa muito comum de ser ouvida como queixa sobre maridos e companheiros é que homens são todos assim... Eles não se preocupam previamente em ter comida na mesa e reclamam já na hora do almoço que não tem comida feita, eles acham que podem ficar dias sem fazer nada em casa porque fizeram uma instalação de armário, arrumaram uma bagunça do quintal ou coisa que o valha. Eles não percebem quando as cuecas estão em falta na gaveta até o fatídico dia em que, após o banho, não tem sequer uma cueca limpa na gaveta e nem no varal, não percebem quando a dispensa está esvaziando e não sacam a criança manhosa porque precisa de atenção, seja por fome, tédio ou sono... E ainda reclama pra mãe ir lá fazer algo a respeito... Homem é tudo assim, precisa chegar do trabalho e dar uma relaxada, enquanto a mãe, que também trabalhou o dia inteiro precisa sair correndo em meio a preparação do jantar pra ir buscar a criança voltar e ainda terminar o jantar - e fazer ainda alguma coisa a respeito da criança manhosa. E claro, se a criança é manhosa, é culpa da mãe.

Essa história é muito, muito comum.

Mas não é exatamente essa coisa de homem é tudo igual que é a verdade... Acho que a verdade é que as mulheres permitem essa posição machista, os homens são acomodados por serem criados pelas famílias dessa forma ( porque convenhamos que homens adultos de hoje dificilmente foram criados muito diferentemente, os pais eram exatamente esse modelo de pai que acha que ir trabalhar fora basta, e aceito pelas mães). É um hábito rançoso e mal resolvido.

É preciso um bom senso, uma vergonha na cara desses homens de ver que isso não é bem assim. E coragem das mulheres de bater de frente sobre essa questão.

Não é justo uma família ser concebida conjuntamente e depois tudo pender pra um lado só. São dois adultos com capacidades iguais de trabalhar e pensar juntos a rotina que é dos dois. E não só rotina, mas valores, responsabilidades e alegrias também.

Se você, mulher, parar para listar todas as atividades que você faz, e todas que o seu companheiro faz, provavelmente vai ver que você tem muito mais responsabilidades e trabalho do que seu companheiro e vai ver também que ele possui mais tempo de recreação para si mesmo do que você. E se vocês tem filhos, não precisa nem lista, você sabe que o que eu digo é um fato. Salvo raras excessões.

Uma coisa que eu acho que pode ser feita em qualquer família é listar tudo que é feito na rotina de vocês e alternar quem faz o que. É importante, como cuidado próprio, como decência humana, você saber se virar sozinho, saber cozinhar, manter alguma higiene na casa, saber lavar a própria roupa, minimamente. Muitos homens não lavam roupas ou fazem comida, mas é preciso deixar que eles façam, nem que seja a força, pra eles valorizarem o que eles tem em casa, na vida... Mas principalmente pela esperança de brotar ali, uma sementinha de satisfação própria em ir construindo em si um ser independente e pró ativo com sua própria vida... Porque sério, a casa é dos dois, a comida é dos dois, tudo e compartilhado, então as tarefas, com seus lados bons e ruins, deve ser dividida. Cozinhar pode ser uma descoberta prazerosa pra quem nunca sequer tentou cozinhar, por exemplo.

Permitam que as funções mudem, que o companheiro seja companheiro de verdade e cobre por isso. Quando vocês decidiram se unir como família, como pai e mãe, decidiram juntos. Então caminhem juntos, pelo bem dos dois, para que os dois se valorizem mutuamente!

E para os pais, preciso dizer, a única coisa que você não pode fazer pelo seu filho é amamentar. De resto você é capaz de tudo, então se vire e faça tanto quanto sua mulher. Dê banho, leve a escola, faça a comida dos pequenos com antecedência, lave as roupinhas, troque as fraldas, verifique se falta alguma coisa pra comprar, brinque, leia historinhas, coloque pra dormir, leve ao médico, vá à reunião da escola! E se sua mulher ajeita a mesa pra você comer, tomar café que seja. Faça por ela tambem. Se você não o faz, tá faltando vergonha na cara. E não me venha com essa história de que trabalha fora... Alguma hora livre existe, tenho certeza.

E, se você homem, faz tudo isso, que bom, você faz o que é sua responsabilidade também! Mas não merece nenhum parabéns por isso, só no dia em que todas as mulheres receberem por fazerem tudo que elas fazem diariamente.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A DPP era 9 de maio

Pra quem não sabe, DPP significa data provável de parto.

Ano passado, em setembro, descobri que estava grávida. Era uma gravidez planejada, diferente da primeira, que foi muito querida, mas foi sem programação alguma.

Como eu já sabia mais sobre maternidade e parto, eu já sabia onde faria o pré-natal, onde ele nasceria, se tudo corresse bem. Escolhemos a Casa Ângela, que é uma casa de parto muito bacana na zona sul de SP. Mas para começar tudo lá, era necessário fazer uma visita para apresentação, e marcamos para o último sábado do mês, que era a data mais próxima que poderíamos ir nós 3, eu, Henrique e Linus. Então, no dia 28 (meu aniversário inclusive) fomos lá visitar e gostamos ainda mais do lugar e logo menos eu começaria o pré-natal.

Na semana seguinte, fiquei ocupada com o aniversário do Linus, que seria no sábado seguinte, sem contar os encaminhamentos finais do meu TCC  e trabalhos finais na faculdade. E acabei adiando um pouco mais o início do pré-natal, por isso e por ainda estarmos decidindo como iríamos pagar as consultas e tal.

No sábado, comecei a ter um sangramento, como sabia que era algo comum nas gestações e muitas vezes não significa nada grave, resolvi não alarmar ninguém sobre isso e não fui ao hospital no mesmo dia, decidi que iria no dia seguinte assim que acordasse, afinal era a festa de aniversário do pequeno e muita gente nem sabia que eu estava grávida também.

Na manhã seguinte, já estava nos planos ir ao hospital, e na minha primeira mexida na cama, desceu uma enxurrada de sangue, fui correndo ao hospital, levei o café da manhã na mochila e lá demorei a ser atendida, era troca de turno dos médicos. Quando fui atendida, a médica me examinou e logo disse: seu colo do útero está aberto, você vai fazer um ultrassom para ver se precisa de curetagem. Puf! Meu mundo caiu por alguns instantes... Liguei pra casa, avisei o Henrique e ele logo veio com o Linus. Houve uma confusão no hospital, não estavam deixando eles entrarem, mas no fim das contas conseguirmos nos encontrar e lá longe e eu vi o Linus me chamando em lágrimas na recepção:

-Mãe! Mãe! Cadê o bebê?

Nos abraçamos, choramos... Falei que eu não sabia, que ele tinha virado sangue. (E por muitos meses ele falava do bebê sempre que eu menstruava). Fiz o ultrassom, não havia mais vidinha, a vidinha que eu nem cheguei a escutar o coraçãozinho uma vez sequer.

Foi um dia, uma semana, um mês muito difícil.

O Linus chegou a ter febre, ficamos tristes.

Eu sangrei do dia 05/10 até o dia 16/11 quase que ininterruptamente, foram 31 dias com algumas pausas de poucos dias. Nesse meio tempo tive 2 amidalites, dismenorréia, muita febre e muita dor pelo corpo, principalmente nos ossos, passei dias de cama e ao mesmo tempo preocupada com as minhas faltas na faculdade, afinal, eu estava mal, mas não para um médico me dar um atestado de 15 dias. Quando parei de sangrar meu corpo respondeu ao processo com um corrimento desgraçado, que parecia que eu estava em carne viva, precisei ficar de cama porque andar doía... Encarei uma dieta com zero carboidratos, que me ajudou no corrimento e assim que fiquei melhor, voltei as aulas. Nesse dia, senti calafrios, tremedeira, tontura, dor de cabeça e mais um monte de coisas estranhas que já não lembro mais, e lá estava eu, voltando pra casa da faculdade, com o menino no carrinho, mochila, e toda a tralha que eu levava sempre, no metrô barra funda, sozinha. Foi bem ruim e era a falta de carboidratos! Comi um pãozinho que tinha levado para o Linus e segurei a onda. Deixei o menino na escola e consegui chegar em casa. Fim da dieta, marquei consulta na nutricionista e na microfisioterapia.

E a vida continuava.

TCC, faculdade, fim de semestre, entrega de trabalhos, não poder faltar pra não bombar por faltas, com o menino junto, todo dia.

Não conseguia falar com meu orientador, que lá pelo fim também ficou internado por alguma infecção, houve falta de compromisso de um professor convidado para a banca, incompatibilidade de datas, já que as minhas eram restritas ao sábados... Todo problema que poderia haver, houve, quase troquei de orientador dias antes da defesa. E nessas idas e vindas pra resolver isso fui me sentindo muito cansada. No fim, consegui apresentar e finalizar o semestre.

Os planos de ter mais filhos ficou pra depois.

O plano agora era mudar de casa, pra Ubatuba, o Henrique foi e voltou várias vezes, nos ocupamos de empacotar coisas em casa, de tentar achar nova moradia antes de vencer nosso contrato vigente... Mais correria e mais correria. E mais histórias bizarras pra contar desse envento... Que ano difícil, mas conseguimos nos mudar logo no início de fevereiro.

Eu não contei pra muita gente que fiquei grávida, e tampouco sobre a perda do bebê, muita gente cruzou comigo sem saber o que estava acontecendo. Pra todo mundo eu estava igual a sempre, acho.

Mas decidi compartilhar, porque muita gente passa por abortos e é bem difícil lidar com isso, mais difícil ainda quando se tem outros pequenos em casa. Pelas minhas pesquisas, dscobri que cerca de 30% dos óvulos fecundados acabam em aborto muito cedo, muitas vezes até confundidos com menstruação. E é um assunto tão guardado, as vezes a gente só queria ter alguém pra dividir o peso, pra dizer que já viveu isso, que passa, que a vida segue. Que fosse sincero, e não mais uma conversa pronta. 

A sensação de falta de controle pra mim foi devastadora, eu achava que eu era muito boa em gestar e parir, visto pela minha expêriência com o Linus... Mas a vida no útero é ao mesmo tempo frágil e forte. E nós, mães, não podemos fazer muito a respeito. Se por algum motivo, não era pra eles ficarem com a gente, eles não ficam. E não há justificativa científica que possa confortar. O negócio é aceitar e esperar passar. Qualquer justificativa é uma idéia vaga do que pode ter acontecido, e os porquês nunca tem resposta.

E hoje de manhã, nessa data, depois de tanta coisa, tantos altos e baixos, fiz um teste de gravidez e deu positivo. Justo hoje, na DPP do outro beibe.

Não sinto a emoção que senti em nenhuma das descobertas anteriores, eu sinto a presença de uma vidinha, com menos de um mês já tenho até barriga. Mas parece estranho me alegrar com algo que pode acabar em um monte de sangue novamente. É quase como se não fosse, pelo medo de perder. Como se isso só fosse se tornar real depois do parto.




terça-feira, 11 de março de 2014

Mudando de casa mais uma vez.




O Linus tem quase 3 anos e meio e essa já é a terceira casa que ele mora. Ele nasceu em um apartamento em São Paulo, depois, pouco antes de ele completar um ano de vida, nos mudamos pra uma casa em São Paulo também e agora, na verdade mês passado, nos mudamos pra uma casa em Ubatuba.

Sempre conversamos sobre morar fora de São Paulo e por diversos motivos, decidimos vir pro litoral. No trabalho, o Henrique vinha conversando sobre trabalhar em casa havia um bom tempo e isso finalmente aconteceu e assim que conseguimos, nos mudamos. Foi trabalhoso e cansativo, muitas idas e voltar entre SP e Ubatuba pra escolher a casa, e tudo mais. E tudo de ônibus... Eu ficava em casa com o Linus e o Henrique ia, na maioria das vezes... E essas vezes foram boas pra ele já ir se situando na cidade que a gente ainda nem conhecia.

Com a ajuda de amigos e do meu irmão, nos mudamos... Pela primeira vez contratamos uma transportadora que empacotou boa parte das nossas coisas (eu indico muito esse serviço pra quem vai se mudar, empacotar o que não é de uso diário é ok, mas empacotar o que se usa todo dia na véspera da mudança com uma criança é pedir pra ficar louca). Rolou um problema na entrega pois o caminhão não pode passar por um determinado pedaço da estrada, mas lá pelas 1h da madrugada tudo estava na casa nova, finalmente. E foi muito cansativo...

Mas sobre as coisas boas: nos sentimos em casa desde o começo, quanto mais conhecemos a cidade, mas gostamos de morar aqui. Pela primeira vez, andar de bicicleta se tornou um hábito, aqui o meio de transporte das pessoas é a bicicleta, sem dúvidas.

Conseguimos organizar a casa de um jeito agradável, onde os quadros nossos e que ganhamos de amigos pudessem ser vistos, já que na casa anterior isso era meio complicado. Os ambientes tem espaço suficiente pra caber cada coisa no seu lugar! Nada mais em lugares estranhos! 

O Linus ganhou um quarto decorado por nós, com as cores que ele pediu, com ondas e tudo mais... E ele também fez uma pintura na parede, com guache... Tudo bem que ficou quase tudo da mesma cor, mas foi bem legal ver ele pintando, melecando a mão inteira na parede! Ele também ganhou uma casa de papelão que fiz com as caixas da mudança... Que eu ainda preciso terminar...




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E até que ele se adaptou bem, nas outras mudanças foi diferente porque ele ainda não entendia muito bem o que estava acontecendo, pra ele eu estar do lado bastava pra ele se sentir em casa, agora um menino, ele já tem outra noção das coisas. Nós havíamos conversado com ele sobre a mudança muito antes, falamos que íamos morar perto da praia e assim que ele chegou na casa, já veio avisando que não tinha areia, que não era casa da praia... E como tudo demorou pra chegar, ele só foi ver a casa com móveis no dia seguinte ( sorte que nosso amigo Gustavo trouxe um colchonete, que foi onde o Linus dormiu).

Ao longo da semana, ele comentou sobre ir embora pra outra casa, mas nada demais. O que eu mais percebi de mudança foram os xixis no chão. Ele, que nunca errava começou a fazer xixi várias vezes no chão... Acho que também tem a ver com a falta de atenção da nossa parte, visto que passávamos muito tempo colocando a casa em ordem e deixávamos ele meio de lado... Mas ele já parou, inclusive agora, se estiver sem cueca ( o que acontece bastante porque aqui é muito quente), ele senta sozinho no vaso sanitário (sentado ao contrário) e faz sozinho...

Uma mudança legal que aconteceu foi a relação dele com a praia... Ele sempre teve muito nojinho da areia (como eu!) e muito medo do mar. Agora como vamos a praia pelo menos uma vez por semana, ele já perdeu muito do nojinho e agora vai entrando no mar sem medo nenhum... Aliás ele fica eufórico de tanta alegria!

Nossas gatas se adaptaram bem, soltamos elas no mesmo dia e elas ficaram por perto... Ficaram com uns tiques de querer arranhar os que nunca arranharam antes, mas nada sério. O mais chato é que uma delas decidiu fazer cocô no chão... E não pára de fazer isso nunca, mas essa gata sempre teve hábitos bizarros em relação a isso.

A mudança maior é ter o Henrique por perto sempre que, por mais que esteja trabalhando, tem o horário mais flexível e podemos fazer mais coisas juntos, ou revezarmos em algumas tarefas. De qualquer maneira, ter companhia em casa é sempre legal, pra mim e pro Linus.

Falando em companhia, ainda não fizemos amizades por aqui... Nem nós, nem o Linus. Tentamos matriculá-lo na escola pública, mas tem fila de espera e a particular que gostamos é muito cara pra pagarmos agora nesse momento de transição. Mas assim que eu conseguir um trabalho, ou a porto seguro devolver nosso dinheiro (do seguro fiança da outra casa) isso muda.


Num geral acho que essa foi a mudança mais legal que fizemos... E acho que tem sido legal pro Linus também. 

:)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Uma transição, um pezinho meninão, um pezinho bebezão.

Linus tem 3 anos e 3 meses agora. E já tem uma independência de menino maior.

Outro dia comi um mamão que não tava lá muito bom e fiquei passando mal, vomitei até não ter mais nada e diarréia idem, fiquei jogada na cama incapaz de fazer qualquer coisa e estávamos só nos 2 em casa. De manhã, ele pegou alguma coisa pra comer, liguei a TV e larguei o menino, eu mesma mal consegui sair da cama, nem as janelas abri, não fiz nada mesmo. Até que liguei pro Henrique voltar pra casa porque não tava dando não. Enfim, nisso o menino fez xixi sozinho no penico sem nem me chamar... respeitou meu repouso e se comportou muito bem. Quando foi chegando a hora do almoço ele veio falar comigo que queria suco e eu não falei nada pra ele, nisso, ele lembrou do suco que eu tinha feito na noite anterior e que sobrou e ele mesmo foi na cozinha, abriu a geladeira, pegou o suco, fechou a geladeira,  abriu o copo  e tomou (isso tudo eu estava escutando de longe). Depois ele voltou lá e trouxe bananas e comeu do meu lado.

E esse mesmo menino que parece não precisar mais de mim, tem momentos de chorar como um bebezinho, por qualquer coisa, porque quer colo, porque está com saudade de mamar. Deita como um bebezinho no meu colo e diz que não é grande, que é pequenininho. Ainda quer que eu dê comida na boca dele, de manhã, as vezes faz a maior cena porque quer que eu segure o pão pra ele comer. Diz que tem medo de alguma coisa só pra eu dar a mão, diz que está com saudade de mim o tempo inteiro. E me chama de mamãe passarinho (de verde e de amarelo).

Outro dia eu estava acompanhando ele no banheiro e sentei do lado do vaso sanitário e ele começou a mexer no meu cabelo... e ele começou a falar: é tãããão liiindo, é tãããão liiindo o seu cabelo... - e depois arrumou meu cabelo pra trás e me deu um beijo na testa: você é tããão boniiita. Saiu do vaso, limpamos e ele sentou do meu lado, falou que eu tinha que falar que eu era bonita e cada um de nós falamos: eu são tão bonita/ eu sou tão bonito.

Ele também tem momentos em que quer fazer tudo sozinho, ele coloca os ingredientes, ele mistura, ele mede, ele lava, ele  monta, ele conserta e ai de quem atrapalhar os planos dele. E também tem o extremo oposto, que não quer fazer nada.

Ele ainda tira a soneca da tarde e continua brigando pra não dormir... e se não dorme fica enjoado pra tudo, vê problema em tudo, se a água não está no nível certo e temperatura certa é uma das coisas mais comuns que ele implica quando está com sono e é disso pra pior, coisas que a gente realmente não consegue compreender e que esgota a nossa paciência.

As conversas tem ficado cada vez melhores, ele já sabe recontar uma história com alguma lógica, fala coisas com muita clareza do que está falando e argumenta bem. Quando tem alguma comida no prato que ele não quer, ele diz que não é boa pra ele e que é boa pra mim... e fala pra eu comer rs. E não entende quando eu digo que ele é um palhaço, fica bravo e diz que não é palhaço, que o Linus.

E ele já deixa eu cortar as unhas dele quietinho, pra mim isso é uma grande evolução! rs