terça-feira, 27 de maio de 2014

Homens são todos iguais... São mesmo?

São todos iguais, ou são todas as mulheres iguais a terem as mesmas péssimas expectativas deles? Ou o extremo oposto, a super bajulação por eles fazerem nada menos do que deveria ser obrigação deles como indivíduo perante a família?

Uma coisa muito comum de ser ouvida como queixa sobre maridos e companheiros é que homens são todos assim... Eles não se preocupam previamente em ter comida na mesa e reclamam já na hora do almoço que não tem comida feita, eles acham que podem ficar dias sem fazer nada em casa porque fizeram uma instalação de armário, arrumaram uma bagunça do quintal ou coisa que o valha. Eles não percebem quando as cuecas estão em falta na gaveta até o fatídico dia em que, após o banho, não tem sequer uma cueca limpa na gaveta e nem no varal, não percebem quando a dispensa está esvaziando e não sacam a criança manhosa porque precisa de atenção, seja por fome, tédio ou sono... E ainda reclama pra mãe ir lá fazer algo a respeito... Homem é tudo assim, precisa chegar do trabalho e dar uma relaxada, enquanto a mãe, que também trabalhou o dia inteiro precisa sair correndo em meio a preparação do jantar pra ir buscar a criança voltar e ainda terminar o jantar - e fazer ainda alguma coisa a respeito da criança manhosa. E claro, se a criança é manhosa, é culpa da mãe.

Essa história é muito, muito comum.

Mas não é exatamente essa coisa de homem é tudo igual que é a verdade... Acho que a verdade é que as mulheres permitem essa posição machista, os homens são acomodados por serem criados pelas famílias dessa forma ( porque convenhamos que homens adultos de hoje dificilmente foram criados muito diferentemente, os pais eram exatamente esse modelo de pai que acha que ir trabalhar fora basta, e aceito pelas mães). É um hábito rançoso e mal resolvido.

É preciso um bom senso, uma vergonha na cara desses homens de ver que isso não é bem assim. E coragem das mulheres de bater de frente sobre essa questão.

Não é justo uma família ser concebida conjuntamente e depois tudo pender pra um lado só. São dois adultos com capacidades iguais de trabalhar e pensar juntos a rotina que é dos dois. E não só rotina, mas valores, responsabilidades e alegrias também.

Se você, mulher, parar para listar todas as atividades que você faz, e todas que o seu companheiro faz, provavelmente vai ver que você tem muito mais responsabilidades e trabalho do que seu companheiro e vai ver também que ele possui mais tempo de recreação para si mesmo do que você. E se vocês tem filhos, não precisa nem lista, você sabe que o que eu digo é um fato. Salvo raras excessões.

Uma coisa que eu acho que pode ser feita em qualquer família é listar tudo que é feito na rotina de vocês e alternar quem faz o que. É importante, como cuidado próprio, como decência humana, você saber se virar sozinho, saber cozinhar, manter alguma higiene na casa, saber lavar a própria roupa, minimamente. Muitos homens não lavam roupas ou fazem comida, mas é preciso deixar que eles façam, nem que seja a força, pra eles valorizarem o que eles tem em casa, na vida... Mas principalmente pela esperança de brotar ali, uma sementinha de satisfação própria em ir construindo em si um ser independente e pró ativo com sua própria vida... Porque sério, a casa é dos dois, a comida é dos dois, tudo e compartilhado, então as tarefas, com seus lados bons e ruins, deve ser dividida. Cozinhar pode ser uma descoberta prazerosa pra quem nunca sequer tentou cozinhar, por exemplo.

Permitam que as funções mudem, que o companheiro seja companheiro de verdade e cobre por isso. Quando vocês decidiram se unir como família, como pai e mãe, decidiram juntos. Então caminhem juntos, pelo bem dos dois, para que os dois se valorizem mutuamente!

E para os pais, preciso dizer, a única coisa que você não pode fazer pelo seu filho é amamentar. De resto você é capaz de tudo, então se vire e faça tanto quanto sua mulher. Dê banho, leve a escola, faça a comida dos pequenos com antecedência, lave as roupinhas, troque as fraldas, verifique se falta alguma coisa pra comprar, brinque, leia historinhas, coloque pra dormir, leve ao médico, vá à reunião da escola! E se sua mulher ajeita a mesa pra você comer, tomar café que seja. Faça por ela tambem. Se você não o faz, tá faltando vergonha na cara. E não me venha com essa história de que trabalha fora... Alguma hora livre existe, tenho certeza.

E, se você homem, faz tudo isso, que bom, você faz o que é sua responsabilidade também! Mas não merece nenhum parabéns por isso, só no dia em que todas as mulheres receberem por fazerem tudo que elas fazem diariamente.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A DPP era 9 de maio

Pra quem não sabe, DPP significa data provável de parto.

Ano passado, em setembro, descobri que estava grávida. Era uma gravidez planejada, diferente da primeira, que foi muito querida, mas foi sem programação alguma.

Como eu já sabia mais sobre maternidade e parto, eu já sabia onde faria o pré-natal, onde ele nasceria, se tudo corresse bem. Escolhemos a Casa Ângela, que é uma casa de parto muito bacana na zona sul de SP. Mas para começar tudo lá, era necessário fazer uma visita para apresentação, e marcamos para o último sábado do mês, que era a data mais próxima que poderíamos ir nós 3, eu, Henrique e Linus. Então, no dia 28 (meu aniversário inclusive) fomos lá visitar e gostamos ainda mais do lugar e logo menos eu começaria o pré-natal.

Na semana seguinte, fiquei ocupada com o aniversário do Linus, que seria no sábado seguinte, sem contar os encaminhamentos finais do meu TCC  e trabalhos finais na faculdade. E acabei adiando um pouco mais o início do pré-natal, por isso e por ainda estarmos decidindo como iríamos pagar as consultas e tal.

No sábado, comecei a ter um sangramento, como sabia que era algo comum nas gestações e muitas vezes não significa nada grave, resolvi não alarmar ninguém sobre isso e não fui ao hospital no mesmo dia, decidi que iria no dia seguinte assim que acordasse, afinal era a festa de aniversário do pequeno e muita gente nem sabia que eu estava grávida também.

Na manhã seguinte, já estava nos planos ir ao hospital, e na minha primeira mexida na cama, desceu uma enxurrada de sangue, fui correndo ao hospital, levei o café da manhã na mochila e lá demorei a ser atendida, era troca de turno dos médicos. Quando fui atendida, a médica me examinou e logo disse: seu colo do útero está aberto, você vai fazer um ultrassom para ver se precisa de curetagem. Puf! Meu mundo caiu por alguns instantes... Liguei pra casa, avisei o Henrique e ele logo veio com o Linus. Houve uma confusão no hospital, não estavam deixando eles entrarem, mas no fim das contas conseguirmos nos encontrar e lá longe e eu vi o Linus me chamando em lágrimas na recepção:

-Mãe! Mãe! Cadê o bebê?

Nos abraçamos, choramos... Falei que eu não sabia, que ele tinha virado sangue. (E por muitos meses ele falava do bebê sempre que eu menstruava). Fiz o ultrassom, não havia mais vidinha, a vidinha que eu nem cheguei a escutar o coraçãozinho uma vez sequer.

Foi um dia, uma semana, um mês muito difícil.

O Linus chegou a ter febre, ficamos tristes.

Eu sangrei do dia 05/10 até o dia 16/11 quase que ininterruptamente, foram 31 dias com algumas pausas de poucos dias. Nesse meio tempo tive 2 amidalites, dismenorréia, muita febre e muita dor pelo corpo, principalmente nos ossos, passei dias de cama e ao mesmo tempo preocupada com as minhas faltas na faculdade, afinal, eu estava mal, mas não para um médico me dar um atestado de 15 dias. Quando parei de sangrar meu corpo respondeu ao processo com um corrimento desgraçado, que parecia que eu estava em carne viva, precisei ficar de cama porque andar doía... Encarei uma dieta com zero carboidratos, que me ajudou no corrimento e assim que fiquei melhor, voltei as aulas. Nesse dia, senti calafrios, tremedeira, tontura, dor de cabeça e mais um monte de coisas estranhas que já não lembro mais, e lá estava eu, voltando pra casa da faculdade, com o menino no carrinho, mochila, e toda a tralha que eu levava sempre, no metrô barra funda, sozinha. Foi bem ruim e era a falta de carboidratos! Comi um pãozinho que tinha levado para o Linus e segurei a onda. Deixei o menino na escola e consegui chegar em casa. Fim da dieta, marquei consulta na nutricionista e na microfisioterapia.

E a vida continuava.

TCC, faculdade, fim de semestre, entrega de trabalhos, não poder faltar pra não bombar por faltas, com o menino junto, todo dia.

Não conseguia falar com meu orientador, que lá pelo fim também ficou internado por alguma infecção, houve falta de compromisso de um professor convidado para a banca, incompatibilidade de datas, já que as minhas eram restritas ao sábados... Todo problema que poderia haver, houve, quase troquei de orientador dias antes da defesa. E nessas idas e vindas pra resolver isso fui me sentindo muito cansada. No fim, consegui apresentar e finalizar o semestre.

Os planos de ter mais filhos ficou pra depois.

O plano agora era mudar de casa, pra Ubatuba, o Henrique foi e voltou várias vezes, nos ocupamos de empacotar coisas em casa, de tentar achar nova moradia antes de vencer nosso contrato vigente... Mais correria e mais correria. E mais histórias bizarras pra contar desse envento... Que ano difícil, mas conseguimos nos mudar logo no início de fevereiro.

Eu não contei pra muita gente que fiquei grávida, e tampouco sobre a perda do bebê, muita gente cruzou comigo sem saber o que estava acontecendo. Pra todo mundo eu estava igual a sempre, acho.

Mas decidi compartilhar, porque muita gente passa por abortos e é bem difícil lidar com isso, mais difícil ainda quando se tem outros pequenos em casa. Pelas minhas pesquisas, dscobri que cerca de 30% dos óvulos fecundados acabam em aborto muito cedo, muitas vezes até confundidos com menstruação. E é um assunto tão guardado, as vezes a gente só queria ter alguém pra dividir o peso, pra dizer que já viveu isso, que passa, que a vida segue. Que fosse sincero, e não mais uma conversa pronta. 

A sensação de falta de controle pra mim foi devastadora, eu achava que eu era muito boa em gestar e parir, visto pela minha expêriência com o Linus... Mas a vida no útero é ao mesmo tempo frágil e forte. E nós, mães, não podemos fazer muito a respeito. Se por algum motivo, não era pra eles ficarem com a gente, eles não ficam. E não há justificativa científica que possa confortar. O negócio é aceitar e esperar passar. Qualquer justificativa é uma idéia vaga do que pode ter acontecido, e os porquês nunca tem resposta.

E hoje de manhã, nessa data, depois de tanta coisa, tantos altos e baixos, fiz um teste de gravidez e deu positivo. Justo hoje, na DPP do outro beibe.

Não sinto a emoção que senti em nenhuma das descobertas anteriores, eu sinto a presença de uma vidinha, com menos de um mês já tenho até barriga. Mas parece estranho me alegrar com algo que pode acabar em um monte de sangue novamente. É quase como se não fosse, pelo medo de perder. Como se isso só fosse se tornar real depois do parto.